Como Fazer a Especialidade de Vida Silvestre – Desbravadores
REQUISITOS DA ESPECIALIDADE:
- Participar de, pelo menos, dois acampamentos, com no mínimo dois pernoites cada, durante os quais possa praticar as habilidades necessárias para esta especialidade.
- Mencionar cinco coisas que devem ser feitas quando se está perdido numa floresta. Conhecer trés métodos de identificar os pontos cardeais sem o uso de uma bússola.
- Demonstrar três maneiras de purificar água para beber.
- Conhecer três formas de encontrar água na floresta e demonstrar dois desses métodos.
- Demonstrar pelo menos dois métodos de:
- Avaliar a altura de uma árvore
- Avaliar a largura de um riacho
- Identificar, em meio à natureza, as pegadas de quatro animais ou pássaros silvestres.
- Usando uma bússola, seguir um percurso previamente montado pelo instrutor, com no mínimo três azimutes e mais de 1200 metros, com margem de erro de no máximo 5% da distância do percurso (por exemplo: para um percurso de 1200 metros, margem de erro de 60 metros).
- Identificar, preparar e comer dez variedades de plantas silvestres.
- Ter um estojo pessoal de sobrevivência, com 15 itens, e saber usar cada um deles.
- Explicar a necessidade de um bom sono, regime alimentar adequado, higiene pessoal e exercício apropriado.
- Ter a especialidade de Primeiros Socorros – Intermediário. Além desta especialidade, conhecer a prevenção, os sintomas e o tratamento de primeiros socorros para o seguinte:
- Hipotermia
- Mordida de cobra peçonhenta
- Insolação
- Exaustão
- Arbustos venenosos
- Feridas ou machucados com infecção
- Enjoo provocado por altitude
- Desidratação
- Demonstrar duas formas de sinalizar pedidos de socorro.
- Demonstrar os princípios que devem ser respeitados para se andar silenciosamente e esconder-se, em caso de necessidade.
- Explicar como preparar-se e providenciar abrigo nas seguintes condições:
- Muita neve
- Areas rochosas
- Pântanos
- Florestas
Aprendendo sobre a Especialidade de Vida Silvestre
Domine a arte da sobrevivência com a Especialidade de Vida Silvestre! Aprenda a encontrar água, construir abrigos, navegar e muito mais. Um guia essencial para desbravadores.
Como fazer a Especialidade de Vida Silvestre
A Especialidade de Vida Silvestre é uma das mais práticas e emocionantes para os desbravadores. Ela não é aprendida apenas nos livros, mas vivenciada no campo. A base para conquistar esta especialidade é a participação ativa em, no mínimo, dois acampamentos. É nessas ocasiões que as habilidades de sobrevivência, orientação e primeiros socorros são testadas e aprimoradas sob a supervisão de líderes experientes.
Orientação e Sobrevivência: O Que Fazer ao se Perder
Encontrar-se perdido em uma floresta pode ser assustador, mas manter a calma é o primeiro passo para a sobrevivência. A melhor estratégia é seguir o acrônimo PARE: Pare, Acalme-se, Reflita e Execute. Tomar decisões racionais economiza energia e aumenta as chances de resgate. Após parar, é fundamental avaliar a situação e adotar medidas que garantam sua segurança e bem-estar.
- Permanecer no Local: Evite andar sem rumo. Se precisar se mover, deixe rastros claros para não andar em círculos e para que as equipes de busca possam encontrá-lo.
- Procurar Abrigo: Construir ou encontrar um abrigo é vital para se proteger dos elementos como chuva, vento e sol, além de animais.
- Sinalizar por Socorro: Use métodos visuais e sonoros para chamar a atenção. Uma fogueira, espelho ou apito são excelentes ferramentas.
- Encontrar Água: A hidratação é prioritária. Procure por fontes de água seguindo a vegetação ou descendo para áreas mais baixas do terreno.
- Manter a Calma: O controle emocional é a ferramenta mais importante. O pânico leva a decisões ruins e ao esgotamento de energia.
Navegação Sem Bússola
Saber se orientar sem equipamentos modernos é uma habilidade crucial na Especialidade de Vida Silvestre. Existem métodos clássicos e eficazes para encontrar os pontos cardeais.
- Método do Sol e da Vareta: Finque uma vareta no chão e marque a ponta da sombra. Espere 15-20 minutos e marque a nova posição. A linha entre as duas marcas aponta para Leste-Oeste (a primeira marca é Oeste).
- Método do Relógio Analógico: No Hemisfério Sul, aponte o número 12 para o Sol. A linha que divide ao meio o ângulo entre o ponteiro das horas e o 12 indicará o Norte.
- Cruzeiro do Sul (Hemisfério Sul): À noite, prolongue o braço maior da cruz 4,5 vezes. Desse ponto imaginário, desça uma linha reta até o horizonte para encontrar o Sul.
Hidratação é Vida: Encontrando e Purificando Água
A água é essencial para a sobrevivência, mas consumir água contaminada pode causar doenças graves. Por isso, a Especialidade de Vida Silvestre ensina tanto a encontrar quanto a purificar a água. Para localizar fontes de água, observe a natureza: vegetação densa e verde, trilhas de animais e o próprio relevo do terreno, que leva a água para pontos mais baixos, são ótimos indicadores. Coletar água da chuva ou do orvalho com um pano limpo também são alternativas viáveis.
Após encontrar a água, a purificação é obrigatória. Existem três métodos principais que todo desbravador deve conhecer:
- Fervura: É o método mais seguro. Ferver a água vigorosamente por 5 a 10 minutos elimina a maioria dos vírus, bactérias e parasitas.
- Filtro Caseiro: Construa um filtro com uma garrafa PET, colocando camadas de pano, carvão triturado, areia fina e pedras pequenas. Este processo remove impurezas e sedimentos.
- Purificação Solar (SODIS): Coloque a água filtrada em garrafas PET transparentes e deixe-as sob o sol forte por pelo menos 6 horas. A radiação UV do sol desinfeta a água.
Medindo a Natureza: Técnicas de Avaliação
Saber estimar distâncias sem ferramentas de medição é uma habilidade útil em diversas situações de acampamento e exploração. A Especialidade de Vida Silvestre exige a demonstração de técnicas para avaliar alturas e larguras.
Calculando a Altura de uma Árvore
- Método do Graveto: Estique o braço segurando um graveto na vertical. Alinhe a ponta do graveto com o topo da árvore e seu dedo com a base. Gire o graveto 90 graus e peça para um colega andar da base da árvore até o ponto indicado pela ponta. Essa distância é a altura aproximada da árvore.
- Método da Sombra: Meça sua altura e o comprimento da sua sombra. Depois, meça o comprimento da sombra da árvore. Use uma regra de três para encontrar a altura da árvore.
Estimando a Largura de um Riacho
- Método do Boné: Na margem, alinhe a aba do seu boné com um ponto fixo na margem oposta. Sem mover a cabeça, gire o corpo e veja onde a aba aponta na sua margem. A distância entre você e esse novo ponto é a largura do riacho.
- Método do Passo do Napoleão: Escolha um ponto (A) na outra margem. Caminhe uma distância (ex: 30 passos) ao longo da margem até o ponto C. Continue por metade dessa distância (15 passos) até D. Vire 90 graus e se afaste do rio até que C e A se alinhem. A distância de D até este ponto, multiplicada por dois, é a largura do rio.
O Detetive da Floresta: Identificando Pegadas de Animais
Identificar pegadas é uma forma de ler as histórias que a vida silvestre deixa para trás. Para cumprir este requisito da especialidade, procure por rastros em lama, areia ou terra fofa, principalmente perto de fontes de água. É útil levar um guia de campo ou tirar fotos para confirmar a identificação. Fazer um molde de gesso é uma ótima forma de registrar a descoberta.
- Capivara: Pegada com quatro dedos na frente e três atrás, com membranas entre eles.
- Onça-parda: Pegada arredondada, sem marcas de garras (que são retráteis) e com uma almofada grande em formato de “M”.
- Tatu: Deixa um rastro com marcas de garras fortes e, frequentemente, o arrasto da cauda.
- Quati: Pegada com cinco dedos e marcas de garras longas, usadas para escalar e cavar.
- Seriema: Pássaro que deixa uma marca com três dedos longos para frente e um pequeno para trás.
Navegação com Precisão: Dominando a Bússola e Azimutes
Este requisito prático testa sua capacidade de navegar com precisão. O instrutor fornecerá um percurso com azimutes (direções em graus) e distâncias. O objetivo é chegar ao destino final com uma margem de erro mínima. O processo é metódico e requer atenção.
- Ajustar a Bússola: Gire o anel graduado (limbo) até que o azimute desejado se alinhe com a linha de fé (direção de viagem).
- Alinhar com o Norte: Segure a bússola na horizontal e gire seu corpo até que a agulha magnética (vermelha) se alinhe com o ‘N’ do limbo.
- Seguir a Direção: Caminhe na direção apontada pela linha de fé, contando seus passos para medir a distância correta.
- Repetir o Processo: Ao final de cada trecho, ajuste a bússola para o novo azimute e continue até completar o percurso.
Cardápio Silvestre: Plantas Comestíveis e Seus Cuidados
Atenção: Este requisito deve ser realizado obrigatoriamente com a supervisão de um especialista. A identificação incorreta de plantas silvestres pode causar intoxicações graves ou até fatais. Na dúvida, não coma.
Conhecer Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANC) é uma habilidade avançada da Especialidade de Vida Silvestre. Muitas plantas precisam de preparo adequado, como cozimento, para neutralizar substâncias tóxicas. Abaixo estão alguns exemplos encontrados no Brasil:
- Ora-pro-nóbis: Folhas ricas em proteína, ótimas refogadas.
- Beldroega: Folhas e talos suculentos, podem ser consumidos em saladas.
- Serralha: Folhas amargas que devem ser refogadas.
- Taioba: As folhas devem ser sempre cozidas; o consumo cru é tóxico.
- Azedinha: Folhas com sabor ácido, usadas em saladas e sucos.
- Capuchinha: Flores e folhas com sabor picante, ideais para saladas.
- Dente-de-leão: Folhas jovens em saladas e flores para chás.
- Caruru (Bredo): As folhas devem ser cozidas para eliminar oxalatos.
- Picão-preto: Folhas jovens podem ser consumidas refogadas.
- Jambu: Causa uma dormência característica na boca, usado na culinária amazônica.
Seu Kit Essencial de Sobrevivência
Um estojo pessoal de sobrevivência é um conjunto de itens essenciais, compacto e à prova d’água, que pode fazer toda a diferença em uma emergência. O desbravador deve conhecer o uso de cada item do seu kit.
- Faca ou Canivete Multiuso: A ferramenta mais versátil.
- Pederneira: Para iniciar fogo mesmo molhada.
- Isqueiro: Fonte de fogo rápida.
- Apito: Para sinalizar socorro sem gastar energia.
- Bússola pequena: Para orientação básica.
- Lanterna pequena (LED): Iluminação noturna.
- Manta Térmica de Emergência: Previne a hipotermia.
- Espelho de Sinalização: Para sinalizar para aeronaves.
- Purificador de Água (pastilhas): Tratamento químico da água.
- Linha de Pesca e Anzóis: Para obter alimento.
- Arame fino: Útil para armadilhas e reparos.
- Curativos e Antisséptico: Kit básico de primeiros socorros.
- Corda ou Cordelete: Para amarrações e abrigos.
- Lápis e Papel à prova d’água: Para anotações.
- Sacos plásticos resistentes: Para manter itens secos ou coletar água.
A Base da Resistência: Saúde Física e Mental na Natureza
A sobrevivência em ambientes selvagens depende diretamente do cuidado com o corpo e a mente. Negligenciar os pilares da saúde pode levar à exaustão e a erros perigosos.
Bom Sono: É crucial para a recuperação física e mental, restaurando energias e melhorando a capacidade de tomar decisões. Regime Alimentar Adequado: Fornece o combustível para o corpo. Uma dieta rica em carboidratos, proteínas e gorduras previne a fadiga e a hipotermia. Higiene Pessoal: Práticas como lavar as mãos e manter os pés secos previnem infecções e doenças. Exercício Apropriado: Um bom condicionamento físico reduz o risco de lesões e aumenta a resistência para enfrentar os desafios das atividades ao ar livre.
Primeiros Socorros em Ambientes Selvagens
Além de possuir a especialidade de Primeiros Socorros – Intermediário, o desbravador deve saber como prevenir, identificar e tratar problemas comuns em ambientes naturais.
- Hipotermia:
Prevenção: Roupas em camadas, proteção contra vento e umidade.
Sintomas: Tremores, confusão mental, pele pálida e fria.
Tratamento: Levar para local seco e aquecido, remover roupas molhadas, agasalhar e oferecer bebidas quentes. - Mordida de cobra peçonhenta:
Prevenção: Usar botas e perneiras, ter atenção onde pisa.
Sintomas: Dor intensa, inchaço, náuseas.
Tratamento: Manter a vítima calma e deitada, lavar o local, imobilizar o membro e procurar um hospital imediatamente. NÃO faça torniquete ou corte o local. - Insolação:
Prevenção: Evitar sol forte, usar chapéu, hidratar-se.
Sintomas: Pele quente e seca, dor de cabeça, tontura.
Tratamento: Levar para local fresco, borrifar água no corpo e aplicar compressas frias. - Exaustão:
Prevenção: Hidratação, alimentação e respeitar os limites do corpo.
Sintomas: Suor excessivo, pele pálida, cãibras, fadiga.
Tratamento: Levar para local fresco, deitar com pernas elevadas, oferecer água. - Contato com arbustos venenosos:
Prevenção: Aprender a identificar plantas perigosas e evitar contato.
Sintomas: Irritação na pele, coceira, bolhas.
Tratamento: Lavar a área com água e sabão e aplicar compressas frias. - Feridas com infecção:
Prevenção: Limpar e proteger qualquer ferimento.
Sintomas: Vermelhidão, inchaço, calor, dor e pus.
Tratamento: Limpar a ferida e procurar ajuda médica, pois pode precisar de antibióticos. - Enjoo de altitude:
Prevenção: Subir lentamente para se aclimatar, hidratar-se bem.
Sintomas: Dor de cabeça, náuseas, fadiga.
Tratamento: Descer para uma altitude menor é a medida mais eficaz. - Desidratação:
Prevenção: Beber líquidos regularmente, mesmo sem sede.
Sintomas: Sede intensa, boca seca, urina escura.
Tratamento: Re-hidratar com água ou soro caseiro em pequenos goles.
Pedindo Ajuda: Como Sinalizar por Socorro
Saber como chamar a atenção de equipes de resgate é uma das habilidades mais importantes da Especialidade de Vida Silvestre. Os sinais são divididos em visuais e sonoros.
Sinais Visuais
- Fogueira: Fazer três fogueiras em triângulo é um sinal universal de socorro. Use folhas verdes para criar fumaça escura e visível durante o dia.
- Espelho: Use um espelho de sinalização ou qualquer objeto refletor para direcionar a luz do sol para aeronaves.
- Sinais Terra-Ar: Crie um “V” (preciso de ajuda) ou “X” (preciso de ajuda médica) no chão com pedras ou galhos.
Sinais Sonoros
- Apito: O padrão internacional de socorro é uma sequência de três apitos. O som do apito alcança distâncias maiores que a voz e economiza energia.
- Pancadas: Bater em um tronco oco em sequências de três também funciona como sinal.
A Arte da Furtividade: Movimento Silencioso e Camuflagem
Mover-se sem ser notado é uma técnica valiosa para observação de animais ou em situações que exijam discrição. Isso envolve tanto o movimento silencioso quanto a camuflagem.
Princípios para Andar em Silêncio
- Mova-se devagar e com controle.
- Preste atenção onde pisa, evitando galhos secos e folhas soltas.
- Use a técnica do calcanhar-ponta, rolando o pé suavemente no chão.
- Mantenha o centro de gravidade baixo, andando com os joelhos flexionados.
- Aproveite ruídos naturais, como o vento, para mascarar seu som.
Técnicas de Camuflagem e Ocultação
- Use cobertura natural como árvores, rochas e moitas.
- Evite criar uma silhueta contra o céu ou fundos claros.
- Use lama ou carvão para quebrar o contorno do rosto e mãos.
- Permaneça imóvel, pois o movimento é facilmente detectado.
- Cubra objetos brilhantes que possam refletir a luz.
Construindo seu Abrigo em Diferentes Biomas
A capacidade de construir um abrigo eficaz em diferentes ambientes é fundamental. A preparação sempre envolve roupas adequadas e a escolha de um local seguro, protegido do vento e de perigos como quedas de árvores ou inundações.
- Muita Neve:
Preparação: Roupas em camadas e impermeáveis.
Abrigo: A neve é um ótimo isolante. Cave uma trincheira ou uma caverna de neve (quinzhee), com a entrada mais baixa que a área de dormir e um furo para ventilação. - Áreas Rochosas:
Preparação: Calçados com boa aderência.
Abrigo: Utilize formações naturais como pequenas cavernas ou saliências. Use pedras para criar uma barreira contra o vento. - Pântanos:
Preparação: Roupas de secagem rápida e repelente.
Abrigo: O abrigo deve ser elevado para proteção contra água e insetos. Uma plataforma suspensa entre árvores é a melhor opção. - Florestas:
Preparação: Ferramentas de corte e repelente.
Abrigo: O abrigo de encosto (lean-to) é o mais comum. Apoie galhos em uma viga principal entre duas árvores e cubra a estrutura com uma camada espessa de folhas para impermeabilizar.